segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Carnaval São João del-Rei 300 anos. São João del-Rei Sol. São João del-Rei Momo


Sempre que é tempo de Carnaval, São João del-Rei bem poderia mudar de nome. Chamar-se São João del Rei Momo, tamanha é a entrega que a cidade se faz à brincadeira, à folia, à fina ironia, ao saudável deboche, à crítica necessária a tudo o que é socialmente instituído, a todos os modelos e construções sociais que regulam a vida do homem moderno. Em muita coisa - e à muita coisa - São João del-Rei subverte, se subverte, se vira pelo avesso, para logo em seguida se reestruturar, se recompor, se reorganizar, resgatando então, ora reforçados e fortalecidos, ora renovados, seus valores tradicionais.

Mas o Carnaval de São João del-Rei não é só isso. Em meio à espontaneidade dos blocos e à esforçada estética das escolas de samba, que a todo custo buscam na linguagem carnavalesca uma didática que torne educativos os seus enredos, uma ideia se destaca. É a Atitude Cultural com o seu Carnaval de Antigamente.

Pode parecer estranho uma entidade tão sedimentada denominar-se "atitude" e um bloco carnavalesco batizar-se de "carnaval", mas não é. O que a Atitude Cultural, por meio do Carnaval de Antigamente, promove é a conscientização de são-joanenses e turistas sobre a riqueza cultural de São João del-Rei: seu patrimônio histórico, seus valores culturais, seus artistas e protagonistas, principalmente ligados ao universo do samba e do Carnaval. Tudo a partir da alegria natural e espontânea, que em outros tempos era a pedra mais brilhante na coroa do Rei Momo.

Em 2013, por exemplo, o Carnaval de Antigamente tem como "enredo" os 300 anos de instituição da Vila de São João del-Rei (assim batizada em homenagem ao Rei Sol Português - Dom João V) e, à lembrança deste fato histórico, acrescenta publicamente uma saudação: São João del-Rei, eu te amo! Neste clima, renderá homenagens à mais antiga agremiação carnavalesca de São João del-Rei ainda em atividade - o octogenário bloco / escola de samba Bate Paus.

Certamente, todos os que amam São João del-Rei estarão, na tarde do domingo de Carnaval, no Largo do Rosário, para engrossar o cordão que, entre antigas marchinhas carnavalescas e retumbantes toques de clarins e trombetas, farão ecoar nas pedras da Serra do Lenheiro sua declaração de amor à cidade tricentenária.

Inclusive a lua nova, que todo carnaval brilha vespertina como fina aliança de prata no céu de cetim azul claro para o qual apontam as torres brancas da igreja mais antiga de São João del-Rei. Em silêncio sideral, ela também dirá: São João del-Rei, eu te amo!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

São João del-Rei - a cidade que não olhou "só" para trás


Diferentemente das demais cidades históricas brasileiras, o centro histórico de São João del-Rei apresenta uma arquitetura que espelha harmonicamente todo o processo de desenvolvimento vivido pela cidade desde o século XVIII. E também o modo de vida dos são-joanenses ao longo do tempo.

Assim, não se parece com a fotografia de um tempo passado. É cenário visualmente dinâmico, que apresenta, por exemplo, as influências arquitetônicas deixadas pela chegada da estrada de ferro, pela industrialização, pelos novos conceitos de moradia, trabalho e higiene surgidos no século XIX e começos do século XX. Por não ser homogeneamente colonial, há quem desvalorize - e até lamente! - a riqueza incomum desta diversidade.

A este respeito, José Belini dos Santos, em almanaque publicado em 1949, escreveu:

"Conta-nos o Velho Testamento, na rudeza singela de seus capítulos, que a mulher de Loth foi transformada em estátua de sal por ter olhado para trás. Para o passado.

As cidades velhas não olham para o futuro. Fazem como a mulher de Loth. Voltam-se para o passado e nele se petrificam. E, enquanto essas cidades jazem inânimes e o vento dos séculos lhes arrebata o último átomo de grandeza e opulência, a bicentenária São João del-Rei continua vigorosamente de pé - velha e moça - num contraste que não cansa, cultuando o seu passado e acompanhando a febricitante vibração da era em que vivemos.

Se aos crentes domina e empolga pela excepcionalidade de suas manifestações de fé, aos incrédulos subjuga e arrebata com a atração da beleza artística que emana dos seus suntuosos templos, em volta dos quais parece redemoinhar o espírito de Aleijadinho - esse Moysés da arte, que - ferindo a pedra azul - fez brotar as fontes estanques da beleza.

Os que não conhecem, trazendo plasmado no subconsciente o refrão de que ela é uma cidade "velha e colonial", talvez influenciados pelo el-rei final de seu nome, vislumbram ruas tortuosas, trafegadas por liteiras carregadas por escravos, mucamas ao redor do velho chafariz e o alferes Tiradentes , embuçado e misterioso, a confabular, nas esquinas desertas, com os conjurados de 1789.

São João del-Rei não imitou o gesto curioso da mulher de Loth. Não se petrificou no passado. No tumultuar constante  da vida moderna ela acompanha, par e passo, as arrojadas arremetidas para o futuro. Cheia de seiva e ânimo prossegue na grande caminhada que deu em todos os setores da atividade humana, o seu desenvolvimento, o seu progresso, tudo em abono da vibrante sentença "de pé, em marcha e para cima!", em zelo da qual São João del-Rei atira-se, resoluta, pela subida gloriosa de seu esplendoroso futuro."