segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

São João del-Rei - a cidade que não olhou "só" para trás


Diferentemente das demais cidades históricas brasileiras, o centro histórico de São João del-Rei apresenta uma arquitetura que espelha harmonicamente todo o processo de desenvolvimento vivido pela cidade desde o século XVIII. E também o modo de vida dos são-joanenses ao longo do tempo.

Assim, não se parece com a fotografia de um tempo passado. É cenário visualmente dinâmico, que apresenta, por exemplo, as influências arquitetônicas deixadas pela chegada da estrada de ferro, pela industrialização, pelos novos conceitos de moradia, trabalho e higiene surgidos no século XIX e começos do século XX. Por não ser homogeneamente colonial, há quem desvalorize - e até lamente! - a riqueza incomum desta diversidade.

A este respeito, José Belini dos Santos, em almanaque publicado em 1949, escreveu:

"Conta-nos o Velho Testamento, na rudeza singela de seus capítulos, que a mulher de Loth foi transformada em estátua de sal por ter olhado para trás. Para o passado.

As cidades velhas não olham para o futuro. Fazem como a mulher de Loth. Voltam-se para o passado e nele se petrificam. E, enquanto essas cidades jazem inânimes e o vento dos séculos lhes arrebata o último átomo de grandeza e opulência, a bicentenária São João del-Rei continua vigorosamente de pé - velha e moça - num contraste que não cansa, cultuando o seu passado e acompanhando a febricitante vibração da era em que vivemos.

Se aos crentes domina e empolga pela excepcionalidade de suas manifestações de fé, aos incrédulos subjuga e arrebata com a atração da beleza artística que emana dos seus suntuosos templos, em volta dos quais parece redemoinhar o espírito de Aleijadinho - esse Moysés da arte, que - ferindo a pedra azul - fez brotar as fontes estanques da beleza.

Os que não conhecem, trazendo plasmado no subconsciente o refrão de que ela é uma cidade "velha e colonial", talvez influenciados pelo el-rei final de seu nome, vislumbram ruas tortuosas, trafegadas por liteiras carregadas por escravos, mucamas ao redor do velho chafariz e o alferes Tiradentes , embuçado e misterioso, a confabular, nas esquinas desertas, com os conjurados de 1789.

São João del-Rei não imitou o gesto curioso da mulher de Loth. Não se petrificou no passado. No tumultuar constante  da vida moderna ela acompanha, par e passo, as arrojadas arremetidas para o futuro. Cheia de seiva e ânimo prossegue na grande caminhada que deu em todos os setores da atividade humana, o seu desenvolvimento, o seu progresso, tudo em abono da vibrante sentença "de pé, em marcha e para cima!", em zelo da qual São João del-Rei atira-se, resoluta, pela subida gloriosa de seu esplendoroso futuro."

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