A sede do Governo era uma casa grande e robusta, de dois pavimentos, bem situada tanto para observar o que se passa na vila como para despachar negócios públicos. Junto a ela, acham-se as repartições públicas que formam um dos lados de uma praça por acabar, ficando-lhes fronteiras algumas casas singelas e sólidas e, bem no centro, a forca das execuções públicas, que sempre se coloca "in terrorem" nalgum ponto muito frequentado de cada vila da província.
O cadafalso é aqui encimado por uma figura de Minerva, brandindo alto um sabre desembainhado à mão direita, em vez de lança, e na esquerda sustentando a balança da Justiça. Não traz venda aos olhos nem tampouco aparenta calma firmeza em sua atitude e fisionomia, mas sim a fereza toda de um Marte enraivecido.
A cadeia fica na rua principal, edifício amplo e sólido, feio e rebarbativo, como talvez de fato deva ser; sujo e repelente, conforme se poderia esperar de maneiras e hábitos do povo. Numerosos são seus inquilinos, sempre visíveis através das grandes janelas sem vidros e gradeadas, e sempre a mendigar. Os crimes que se lhe imputam são, na maioria, capitais e, dentre estes, nenhum existe tão vulgar quanto o assassinato.
De casta bem diversa é a Misericórdia, ótima instituição, convenientemente arranjada, mantida em bom estado e que, em grande parte, é sustentada à custa de contribuições voluntárias. Depõe muito a favor do caráter dos cidadãos. Seus fundos são bem geridos e, geralmente, empregados em auxiliar cerca de cinquenta doentes, todos eles homens. São eles admitidos sem indagãções nem distinções, salvo aquelas que dizem respeito às suas doenças e miséria.
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Dentro em breve tive a honra de ser convidado à mesa de um grande fidalgo, ali encontrando os funcionários civis e militares do lugar e muitos dos seus principais habitantes. Foi o jantar servido com grandes mostras de hospitalidade, mas despido de qualquer exibição de superioridade ou afetação desnecessária. Não se consentia ali nenhum formalismo rígido, mas pareciam todos tão a seu gosto como se estivessem numa casa particular de pessoa igual. Pareciam todos contentes, demonstrando satisfação sincera.
A parte que maior impressão causou ao meu espírito foi a sobremesa, na qual serviram-se 29 variedades diversas de frutas nacionais, feitas em compota, cultivadas e fabricadas nas vizinhanças do lugar. Muitas delas eram novas para mim e houve uma espécie de tangerina branca que me atraiu a atenção, tanto pela sua cor singular como pelo seu excelente perfume.
A época das frutas principia em dezembro e dizem ser muito abundante, coisa de que não se pode duvidar razoavelmente, por isto que atestada pela luxuriante aparência das árvores e pela natureza favorável do clima