Há cem anos, uma das homenagens a São João del-Rei por seu bicentenário como vila foi o lançamento de um "álbum" impresso em que o autor "TB" apresentou diversos aspectos locais, mostrando como a cidade se via, era vista e se apresentava para Minas Gerais e para o Brasil. Talvez possa ser considerado a primeira publicação destinada à promoção turística da "cidade onde os sinos falam", onde o Córrego do Lenheiro era um fio de cristal transparente, que refletia o azul do dia ou a noite estrelada, sempre cantando sob as pontes de pedra. Mas naquele tempo não se falava em turismo...
Com muitas fotos e ilustrações, o livro referia-se ao desenvolvimento são-joanense nos mais nobres e importantes setores: comercial, industrial, educacional, de saúde, artístico e muitos outros, fazendo inveja às demais cidades mineiras daquela época. Citava personalidades que se destacavam em diversas áreas, enumerando com respeito e elegância seus grandes feitos.
Falava das tradições religiosas, demografia, atrativos naturais, urbanismo, instituições sociais, educandários, administração pública e comemorações cívico-sociais importantes - tudo documentado com fotografias que mostravam como São João del-Rei se preparou para a chegada do segundo milênio e recebeu o século XX, em suas primeiras décadas.
Numa mensagem que teve como tema os 200 anos de instituição da Vila de São João del-Rei, o "álbum" traz o seguinte texto:
Oito de dezembro de 1913 - O Bicentenário
No dia 8 de dezembro do corrente ano, a nossa formosa cidade festeja o bicentenário de sua elevação a vila. É uma data grandiosa, bem cara a seus filhos, que celebrarão condignamente a passagem de tão fulgurante efeméride.
Dois séculos são passados que a coroa imperial deu organização administrativa a nossa terra.
Num decorrer tão longo, nossa frondosa cidade poderia hoje ostentar luxuosos palácios e maior progresso, mas o sonho do grande conterrâneo, Tiradentes, que aqui queria erguer a capital da república por ele aspirada, interrompeu-se tragicamente.
Tragicamente, é verdade, mas seu glorioso exemplo frutificou. E a sua causa foi vitoriosa, não muito tarde.
Demais, o ouro era o principal elemento de vida das nossas cercanias. Em ânsias, atras dele, aqui vinham ondas de aventureiros. Porém o vil metal começou a desaparecer, e com ele também a população, que em outras terras, menos exploradas, foi procurá-lo.
A São João del-Rei não coube a glória de ser a capital da República, belamente idealizada pelo maior dos são-joanenses, pelo maior dos brasileiros.
Se nela, hoje, não se erguem os palácios do Governo, se nela não se agita o mundo oficial, tem a linda cidade uma população ordeira, laboriosa, feliz e incomparáveis belezas naturais.
Daqui também tem saído formosos talentos nas artes, nas ciências, nas letras, nas diversas manifestações da atividade humana.
Festejemos pois o dia que se aproxima. Que o bom Deus lance sobre nossa encantadora cidade suas bênçãos.
Festejemos pois o dia que se aproxima!, ele convida e conclama. Que este chamado ecoe junto a todos os são-joanenses - poder público, instituições culturais, setor econômico, comunidade - e nos mobilize para em 2013 comemorar, com grandeza e dignidade, os trezentos anos da Vila de São João del-Rei. A quarta unidade administrativa instituída em Minas Gerais, no alvorecer do século XVIII, em 8 de dezembro de 1713.