São João del-Rei está em um momento muito feliz. As folias de reis que o digam. Feliz não apenas pelo calor e entusiasmo com que está comemorando os 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes à categoria de Vila, com o nome de São João del-Rei, numa homenagem ao faustoso soberano português D. João V.
São João del-Rei está em um momento muito feliz porque está voltando seu olhar para si própria. Não que negue e desvalorize o mundo que existe do outro lado da Serra do Lenheiro, mas sim porque está garimpando suas próprias riquezas, se apropriando de seus tesouros culturais, reconhecendo suas origens e reforçando-as como bases de sua identidade e de sua cultura. É de posse desta história, desta memória e deste patrimônio que, a partir de então, São João del-Rei vai se apresentar para o mundo.
E receber o mundo na intimidade dos quintais da alma são-joanense, onde se cultiva e colhe música barroca, tradições religiosas, cultura popular, sabedoria, humanidade, conhecimento, respeito, folclore e erudição. Onde se cultiva e colhe a própria vida, aqui semeada - ora com zelo e delicadeza, ora com absoluta selvageria e brutalidade - nos idos 1700.
São João del-Rei surpreende. Evolui e surpreende ainda mais. Holística, a cidade tem espaço democrático para todos - todos os conceitos, todos os modos de pensar, acreditar e agir, todos os modos de se expressar. Nos jardins de São João del-Rei floresce legitimidade e é ela que perfuma a brisa da diversidade plena que exala neste Vale do Lenheiro.
Um bom exemplo disto é o trabalho desenvolvido pelo Memorial Dom Lucas Moreira Neves, que nesta segunda semana de dezembro está promovendo, toda noite, de hoje até sexta-feira, em frente à sua sede, na Rua Direita, apresentações de dez grupos de folias diversas: embaixadas santas, moçambiques, folias de reis, folias de São Sebastião, folias do Divino, folia feminina e algumas outras, em sua maioria dos bairros de São João del-Rei mas também de duas cidades vizinhas.
Por sua alma telúrica e popular, as folias ainda não ocupam o lugar que merecem no panteão sagrado da cultura de São João del-Rei, mais identificada pelas tradições barrocas, clássicas e eruditas. Mas a cada evento se tornam mais visíveis, tão conhecidas e reconhecidas que em breve as folias, congados, catupés e moçambiques e outras expressões da cultura popular figurarão entre os mais importantes elementos constituidores e de expressão do patrimônio cultural da tricentenária São João del-Rei.
Foto: Ulisses Passarelli (cortesia)
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